O começo de tudo foi nos anos 70, DJs como Grandmaster Flash, Afrika Bambaata, Kool Herc, Breakout, The Funky Four e DJ Hollywood costumavam distribuir cópias de suas performances em cassetes de áudio. As fitas eram originalmente feitas pelos DJs para servir enquanto não podiam estar nos toca-discos. Elas representavam o conceito de cada DJ da programação, colocação e ordenação das trilhas dos discos. A música é ouvida sem interrupção.
Com o tempo, alguns desses tapes começaram a apresentar MCs mais do que DJs mixando e eram comercializadas nas lojas de discos underground ou na rua.
A música Rap é um estilo muito dinâmico, evolui a cada momento e não foi diferente com as mixtapes. O formato dos anos setenta ainda permanece vivo, mas não é o mais comum. Até meados da década de noventa, mixtape era basicamente amostras de DJs ou exposição da sua habilidade. Eram como uma vitrine para mostrar o talento de um artista.
“Como quase tudo relacionado ao Hip-Hop, a história e o papel da mixtape é muito dinâmica, então fica difícil definir, pois em cada época, a mixtape teve um papel, formato e propósito diferente” (Munhoz).
Mix Tape hoje, pelo menos nos E.U.A, é algo comercial. São lançadas milhares de cópias, DJs como: Big Mike, Whoo Kid e Kay Slay são celebridades hoje graças a suas mixtapes. É a chamada linha comercial das mixtapes. Um dos precurssores dessa “reinvenção” é o nova-iorquino DJ Clue (foto ao lado), que começou fazendo mix de músicas exclusivas em cd, e acabou sendo responsável por lançar artistas como Fabolous e Joe Budden.
Nessa linha as mix são feitas com faixas exclusivas de grandes artistas do Rap americano, e em sua maioria, a base é o “Freestyle”. Por exemplo, o rapper 50 Cent nos últimos anos, através de seu DJ, lançou diversas mixtapes próprias e de seus artistas da G-Unit chegando a vender até 100 mil cópias de cada.
Dentro deste novo universo da mixtape, existe a diversidade de modalidades que valorizaram ainda mais esta prática. Uma das que mais vendem são as mixtapes voltadas para o “beef” (brigas entre rappers). Os exemplos atuais que fizeram muito sucesso são as do rapper The Game xingando 50 Cent e a resposta para o The Game na mesma forma. Esse tipo de briga vende muito, pois atrai os jovens americanos que fazem torcida para um dos lados, por isso é provável que nenhuma dessas brigas seja verdadeira, e sim um marketing pessoal para aumentar as vendas de seus produtos.
Um outro tipo de mixtape que está fazendo bastante barulho lá fora são as mixagens em versões a cappela de rappers, misturadas com instrumentais de outros produtores e estilos. Um grande exemplo disso foi o DJ Danger Mouse que mixou as capellas do disco “The Black Álbum” do Jay-Z com os instrumentais produzidos por ele usando samples do “The White Álbum”, dos Beatles. O sucesso foi estrondoso com mais de um milhão de downloads na Internet e uma grande dor de cabeça para a EMI.
O exemplo mais atual é o excelente “Blue Eyes Meets Bed Stuy” em que Jon Moskowitz mistura capellas de Notorious B.I.G. com instrumentais produzidos pelo DJ Capel com samplers de Frank Sinatra. O resultado é brilhante, um dueto entre um dos maiores ícones da música americana e um dos maiores rappers da história. Essa mixtape está fazendo tanto sucesso que vários selos estão querendo lançá-la oficialmente, porém a filha de Sinatra, Nancy Sinatra não gostou nada da idéia. Isso vai dar muita história ainda.
A cena alternativa, chamada underground, do Rap americano, mantém as raízes da mixtape até hoje. Ela evoluiu também, mas são as mixtapes mais bem trabalhadas do mercado Hip-Hop. São também faixas exclusivas de grandes MCs e de novatos, às vezes juntos para dar mais visibilidade aos novos talentos. Porém a importância dada à produção das batidas e a mixagem das faixas dão resultados excelentes, enquanto nas mixtapes comerciais só se relevam o artístico, as tretas. Nas alternativas tudo tem importância. Todos mostram trabalho, MCs, DJs, produtores, etc.
Mixtapes como as “SoundBombing” lançadas pela gravadora Rawkus viraram clássicos na musica Rap alternativa, “as duas SoundBombing da Rawkus, principalmente a volume 2, mixada pelo J-Rocc e pelo DJ Babu, ambos do Beat Junkies, foram bem importantes pra mim, e todo mundo pode considerar elas como coletâneas, mas pra mim, na minha visão, são duas mixtapes clássicas”, ressalta o MC/produtor Munhoz.
A cultura das mixtapes é essencialmente norte americana, veio do Hip-Hop, porém em certos lugares da Europa como França e Portugal a mixtape teve uma importância muito grande pra cena local. Em Portugal, se não fosse a mixtape, provavelmente a cultura Hip-Hop não seria tão forte como é hoje. Lá o Hip-Hop teve um primeiro estouro com o Breaking nos anos 80. Também apareceram alguns MCs nessa época, mas o primeiro álbum de Hip-Hop português só foi lançado em 94. Era uma coletânea com alguns dos melhores grupos da época. Foi um enorme sucesso e chegou a disco de ouro. Com isso, as grandes gravadoras quiseram arriscar em outros projetos com fórmulas comerciais e não resultou.
“As grandes gravadoras abandonaram o Hip-Hop, e em 95, 96 começou a nascer um movimento underground. Apareceram novos grupos, mas praticamente só saíam mix tapes. Não se editavam álbuns, porque não havia dinheiro”, diz Valete, um dos MCs mais importantes da cena Rap de Portugal, e que também apareceu através das mixtapes.
“Em Portugal, a maior parte dos MCs e DJs que já têm uma base de fãs e uma carreira sustentada fizeram nome em mix tapes. Elas sempre foram vistas como uma rampa de lançamento para os MCs. Todo o MC novo quer entrar numa mix tape para poder espalhar o seu talento. Aqui, se um MC lança um álbum e não tem história nenhuma em mix tapes, ninguém lhe dá muita importância “, acrescenta Valete.
O mesmo acontece com os DJs. Em Portugal foram as mix tapes que suportaram o crescimento do Hip-Hop, passavam de mão em mão, circulavam pelo país e levaram o nome dos MCs e DJs a todos os cantos do país.
Escrito por Dj Tamenpi
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