No Brasil a cultura das mixtapes nunca teve muita notoriedade. Aqui era mais um cartão de visita de um DJ, um set gravado das principais músicas, nunca foi algo realmente levado a sério. Porém, quatro anos pra cá estão aparecendo diversos lançamentos, sempre de maneira independente e com pouco apoio. Mas mesmo assim bastante coisa de qualidade.
Um dos primeiros exemplos foi o MC/produtor Parteum, conhecido do Rap alternativo brasileiro. Ex-skatista profissional, Parteum lançou uma mixtape intitulada “Patrocínio Quebrado” antes de lançar seu disco oficial, “Raciocínio Quebrado”, pela gravadora Trama.
Nessa mix fez um cd com alguns remixes de músicas que estão no álbum, músicas novas de seu grupo, Mzuri Sana e músicas instrumentais que ficaram de fora do álbum, “A intenção foi divulgar meu trampo sem ter de esperar pelo lançamento oficial do Raciocínio Quebrado”, diz. Depois do lançamento do disco oficial, lançou outra mix chamada “Entressafra” com um material que tinha ficado de fora do disco, e mais mixtapes vem aí, “já tem outra no forno”. “A arte independe da sazonalidade do ´Mercadão´. Vendo as mixtapes nos shows e em algumas lojas de skate, nada muito divulgado”, complementa.
O ano de 2005 teve ótimos lançamentos. Um deles foi a mixtape “Raps de Verão” idealizada pelo rapper Paulo Napoli, com apoio da marca de roupa Most. A “Raps de Verão" surgiu da necessidade de mostrar toda uma cena que ainda está escondida dos olhos do grande público. Juntei todo esse material pelo MSN Messenger e mixei em casa todos esses grupos.
O resultado foi uma coletânea única, que registra um momento específico do Rap no Brasil. A Most bancou a produção dos CDs e tivemos alguns grandes momentos com shows em SP e RJ”, fala Napoli. Nessa mix saíram grupos que ainda não tinham lançado seu
trabalho.
Outro destaque de mixtape brasileira foi a do MC/produtor Munhoz, que produziu todas as faixas e chamou MCs que considera importantes na cena atual do Rap alternativo. O resultado é a mixtape ”Munhoz & Prof° M. Stereo – Beats e Rimas Vol. 1” com 21 faixas de ótima qualidade. Uma grande surpresa nessa mix é o Prof° M. Stereo, um alter ego jazzistico do Munhoz que assina as passagens mais inebriantes dessa empreitada.
“Prof. M.Stereo é um nome que eu criei, pra dar vazão a um lado mais musical e experimental meu. Ele surgiu numa época que eu tava meio recluso, e vivendo uma fase bem difícil da minha vida, e as músicas que eu fiz com ele, foram quase psicografadas”, explica Munhoz.
No meio do ano passado, um dos MCs mais conceituados da cena brasileira lançou uma mixtape com um estilo bem particular. Esse MC se chama Kamau, MC do Instituto, do Simples e do extinto Conseqüência. Sua mix se chama “Sinopse”, onde ele faz uma amostra de toda sua carreira: “a intenção é mostrar meus trabalhos antigos com uma levada melhor e mostrar o que está por vir, pois é uma fase de transição pela qual passo no momento.
A mixtape reúne rimas feitas entre 97 e 2005 sendo uma mistura entre participações e músicas ainda não lançadas” diz. Essa mix foi feita nos moldes americanos, onde o MC e o DJ mostram muito serviço. Ele optou por colocar instrumentais de Rap gringo, “eu queria que a mixtape tivesse uma continuidade como de shows com interação entre DJ e MC, e não existem muitos vinis de instrumentais nacionais, e essa variedade era necessária pra se adaptar às várias letras que eu tinha pra mostrar”, explica. “Quando eu comecei no Rap a gente costumava comprar os vinis pra fazer show e era uma das maiores alegrias, comprar um instrumental pra usar no show. Eu quis retomar esse espírito e usar alguns discos que eu comprei e alguns que o Willian (DJ que mixou a mixtape) tinha também”, acrescenta.
O Rio de Janeiro também entrou nesse caminho das mixtapes. Na verdade o Rio lançou uma mixtape em 99, que vinha encartada numa revista. Era da Festa Zoeira Hip-Hop, que mostrava os grupos que freqüentavam a lendária festa que foi o ponta pé inicial pro Rap alternativo carioca. Mas em outubro de 2005 saiu a mixtape da nova geração carioca. Estamos falando da “Ikyxtape”, mixtape produzida por Iky Castilho.
São 28 faixas com a nata do Rap carioca, além de participações de grandes nomes de Sampa “A minha intenção principal foi tipo, vou botar o meu bloco na rua. Uma mixtape com umas músicas minhas chamar alguns amigos pra rimar nos meus beats e botar pra download de graça na Internet, a idéia foi essa. Durante o processo de gravação algumas pessoas ouviram e acharam que valia a pena fazer uma tiragem em CD”, explica Iky. Ela saiu com mixagem do DJ Babão e uma arte muito bem feita com graffitis de artistas cariocas de nome como Smael e Acme.
Mas não é só na música Rap que as mixtapes estão aparecendo aqui no Brasil. Um grande exemplo disso são as mixtapes lançadas pelo DJ paulista Pedrinho DubStrong. Ele já está em seu terceiro lançamento de mixtapes de música jamaicana. Seu primeiro lançamento “Original Fever” com participação do rapper francês Pyroman foi um sucesso de critica.
Nela, Dubstrong mixa grandes clássicos do Roots Reggae junto com raridades que ele, como colecionador e pesquisador de reggae (apesar de ser mais conhecido como DJ de Hip-Hop) possui. “A cultura das mixtapes é essencialmente norte americana, veio do Hip-Hop, que por sua vez é descendente direto do reggae. Na música jamaicana até existem algumas mixtapes, mas é nos “soundclashs” e nos “dubplates” que os jamaicanos extravasam. Nas minhas mixtapes também costumo gravar alguns ´dubplates´, que são versões exclusivas com MCs brasileiros ou gringos” diz. “Sou DJ de Hip-Hop também, mas o reggae e a cultura jamaicana sempre foram minha fonte primordial de pesquisa, então nada mais natural do que unir as duas culturas e fazer uma releitura através de mixtapes”. Aprovadíssima a idéia. O sucesso o fez lançar outra mais voltada para o ragga e dancehall (Uptown Skank), e em seguida lançou a “Uptown Skank Vol. 2” com um apanhado geral da música jamaicana.
A opção da mixtape no Brasil é uma coisa muito importante. Ela dá a oportunidade do artista aparecer sem precisar gastar uma quantidade muito alta de grana, e ainda possibilita fazer discos em parceria, vários grupos fazendo seu trabalho e lançados juntos.
+ Leia a 1º Parte
Fonte: www.bocadaforte.com.br
Ouvindo: DJ Tamenpi - Di Caô Vol. III
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